Ainda cogitamos de não ir vê-la por causa da chuva. Mas foi só por alguns segundos, porque depois acabou prevalecendo a (óbvia) razão de que nem que chovesse canivetes iríamos vê-la - Oportunidade como aquela dificilmente aconteceria novamente - era de se ponderar.
E lá fomos (eu, Carol, Cris, Yve, Paloma, Vi e Fernanda) para as areias do Cabo Branco ver e ouvir (por que ela é de se ver tanto quanto se ouvir) a maior cantora do Brasil em atividade, pelo menos para mim. Ainda fizemos, rapidamente (no final do show, claro) um tipo de ranking delas - E à unanimidade apareceu Maria em primeiro, seguida, de longe, talvez por Marisa Monte, Nana Caymmi ou Gal...
Mas vamos lá. Ela, sozinha, é a intérprete, a atriz, a entertainer, o palco, o som, tudo, tudo. Ela seria capaz de fazer um espetáculo inteiro, somente cantando à capela e recitando poemas (como costumeiramente faz nos seus shows) como em "Cartas de Amor", de Fernando Pessoa, lindamente interposto entre as estrofes de "Mensagem".
E não seria nada fácil recitar poemas ao ar livre, nem mesmo conversar e contar histórias como ela fez, na sua voz aveludada e tranquila - e o público - num misto de hipnotizado e encantado, escutar (e não só ouvir) essa esquálida fantástica contar de sua relação com o irmão (que lhe poupa, desde que nasceu - junto com Chico - o esforço para compor alguma coisa...) e com a mãe, a quem dedica o show, chamado de "Amor, Festa e Devoção, o espetáculo".
Esse é um título que mostra muito de tudo que a acompanha na sua carreira. O amor com que atua na sua vida artística e que aparece escancarado nas suas interpretações, a Festa que produz no seu cantar e a Devoção à mãe, ao irmão, à cultura afro-brasileira, ao palco (onde só entra descalça por entender que é terreno sagrado...).
Sozinha, ela canta, e junto com o cantar vem o sofrimento que o público percebe na expressão facial, na pancada que ela dá no próprio peito, quando arqueia os ombros para frente, quando faz um meneio de mão que explica em gestos o que a canção diz, quando desliza lentamente pelo palco, quando agarra os longos cabelos grisalhos, e quando senta para cantar com seu maestro violeiro, como se estivesse num alpendre na beira da praia (e estava mesmo!).
E assim ela cantou, prendeu o público durante quase uma hora e meia. "Vida", "Fera Ferida", "Não identificado", "Teresinha", "Ronda", "Explode Coração", "Estrela" (do fantástico Vander Lee - que vai, cada vez mais calcando firmemente sua carreira - vai explodir dentro em pouco, tenho certeza), "O que é o que é" e "Reconvexo" talvez tenha sido o clímax do espetáculo, todo mundo dançado uma quizumba...
Ah! E ela ainda consegue transformar "É o Amor" numa linda apresentação teatral e fazer esquecer dos gritos que Zezé de Camargo nem consegue mais dar... e como música incidental ainda espeta "Vai dar namoro", arrancando gargalhadas da platéia...
Ainda tivemos (mais uma vez) a participação de Chico César (que se consagra, por fim, no show de Zeca Baleiro - outro post - como grande responsável por trazê-la, e a Ana e Gabriel), cantando lindamente "Dona do Dom" e "Onde estará o meu amor". Só foi horrível ele dizer que estávamos todos em "Grã-Bethânia" - What the fuck? Mas tudo bem, passou.
Sim! E a santa chuva veio. E foi lindo. Ainda bem que nossa sanidade prevaleceu e vimos, sob a chuva, um espetáculo difícil de esquecer. A filha de Dona Canô também pareceu encantada com o que viu nas areias da Praia do Cabo Branco e consolidou um marco na história cultural da Paraíba.
Pisando em pétalas de rosa, entrou no palco e transformou a praia numa enorme celebração à boa música.
Viva Maricotinha!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário