Seja Bem-Vindo!

Aqui se fala sobre música, sobre artistas e sobre bandas da cena nacional e internacional, de hoje e de sempre!

Já se falou aqui?

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Chico Cesar: "Não vai ter posição da rã no Parque do Povo!"



Bem, pra começar, quero expressar o meu mais sincero (sei que ele nem precisa, mas tudo bem) apoio a Chico César. Acho, observando os portais que noticiaram as suas declarações (reiteradas pelo Governador Ricardo Coutinho), entre os quais o Vírgula (http://virgula.uol.com.br), o Diário de Pernambuco (http://www.diariodepernambuco.com.br) e mesmo o G1 (http://g1.globo.com), que inclusive noticiou que o assunto está entre os mais comentados do país essa semana no twitter, que sua posição é correta, e em todos os sentidos: administrativo, cultural e social.

Administrativo porque entendo eu que o Poder Público tem o dever de, no mínimo, ponderar sobre os gastos que realiza, ainda que sejam em ocasiões onde a lei brasileira dispensa a salutar regra da licitação. Aliás (e eu sei que esse blog trata sobre música, mas não posso jogar na lata de lixo meus conhecimentos jurídicos) o art. 25, III da Lei 8666/93 estabelece uma via tranquila e fácil por onde passam todas as contratações artísticas, sob a proteção da inexigibilidade da licitação em virtude do artista (que nem sempre faz arte, diga-se da passagem), por singular que é na sua atuação, não poder entrar em concorrência porque somente ele pode prestar aquele serviço.

Hely Lopes, para completar, diz que, ainda que a competição esteja inviabilizada em virtude da questão personalíssima, ainda cabe à Administração justificar interesse público, legalidade e economicidade da contratação.

Quanto à legalidade, nada a dizer, porque gerar papel é facílimo na burocracia administrativa. E aliás, como o disse o próprio secretário estadual de cultura, também vejo que tais bandas (que normalmente têm milhares de patrocínios, merchandising, empresários, lobistas, políticos que apóiam, compram seus shows, outros que bancam suas apresentações - muitas vezes sob os agradecimentos reiterados, sem a menor cerimônia... - Ninguém vai ensinar o que é princípio da impessoalidade na administração pública pra Wesley Safadão, claro...) realmente "podem se prestar a irregularidades na prestação de contas por parte de administradores sem maior compromisso com o interesse público".

E mais: quando se fala de interesse público há uma grande tergiversação que deve ser esclarecida, e que o faz muito bem Celso Antônio Bandeira de Melo, dizendo existir dois tipos de interesse público, o primário e o secundário. Diz isso e, imediatamente, faz uma comparação, para facilitar a compreensão, entre interesses da Administração Pública e do Governo. O interesse público primário são as necessidades que devem ser buscadas pela Administração para prática de seu ofício, imparcialmente. Os interesses secundários (governistas) são decorrência do desempenho das suas atividades de gestão, ainda que com certa parcialidade, não objetivando fins tão nobres, mas a própria sobrevivência do erário, ainda que isto posso potencializar afronta à lei.

Dessa forma, o que tem acontecido, sistematicamente, em Campina Grande ao longo dos últimos dez anos, mais ou menos, é o absurdo do Governo se utilizar desse interesse secundário (que não é público, mas governista, com intuito de promoção pessoal e política), por meio de uma autorização legal, e, de maneira absurda, ao contrario de proteger os cofres públicos, arregaça-os às atrações que só vêm aqui uma vez por ano para assaltar os paraibanos, trazer cultura inútil e voltar felizes para o eixo Rio-São Paulo, onde têm de fazer uns 20 shows pra conseguir ganhar o que conseguem aqui numa só noite.

Querem trazer shows de cultura estranha à nossa para o São João? Concordo com Chico, novamente: Que venham, mas paguem por ele, não esperem que a Administração pague, porque o papel do Governo é promover a cultura local. Ou será que não?

A preservação do interesse público parece estar muito mais ligada à tantas e tantas obras e serviços que a população carente espera.

E ainda, sob o prisma administrativo, como demonstrar economicidade nessas contratações? Economicidade é nada mais do que o dever de eficiência do administrado na gestão do dinheiro público. José Eduardo Martins Cardozo diz que economicidade é o que determina o dever jurídico da Administração em utilizar técnicas para fazer negócios (mesmo atos unilaterais) que possibilitem a escolha objetiva da melhor alternativa existente entre as propostas ofertadas. Será que é difícil encontrar uma banda de forró que faça EXATAMENTE o que Aviões do Forró ou Garota Safada fazem, por 10% - ou menos - dos cachês que cobram (que chegam a exorbitantes 150 mil reais)?.

Então, entendo difícil de discordar, do ponto de vista administrativo, do Secretário de Cultura do Mago.

Do ponto de vista cultural e social a coisa parece ser ainda pior.

O que Chico Cesar relatou - eu eu estava lá - sobre o que aconteceu com Geraldo Azevedo, ilustra bem o desprestígio da nossa própria cultura, o que também nos coloca (nós, nossos pais, nossos filhos - se não cuidarmos dessa preservação também) como responsáveis: Geraldo Azevedo, um poeta, cantor e compositor de primeira linha, representante ímpar da cultura nordestina (artista, de verdade) parar seu show (porque o povo gritava: "Ô zezé, cadê você, eu vim aqui só pra te ver...) e dizer algo do tipo: Calma gente, que eles já vão entrar. Vocês precisam dar mais valor à cultura da nossa região. Só porque a gente não tá na novela das 8 não precisam fazer isso. Vou cantar pra vocês alguém que vocês deviam conhecer... E tacou um Jackson do Pandeiro, sob os protestos da platéia...

Costumo dizer que se Biliu tivesse nascido em Pernambuco, era um Capiba.

Se temos várias críticas ao povo de Pernambuco (é verdade, eles podem ser chatos mesmo!), por outro lado é de se louvar o que fazem em relação à valorização da própria cultura, futebol, raízes. Todo mundo sabe o espaço que dão a Biliu no São João... e de fato, ouvir Baixinho do Pandeiro, Cátia de França, Zabé da Loca, Escurinho, Beto Brito, Clã Brasil, Abdias, Dejinha de Monteiro, Aleijadinho de Pombal, Três do Nordeste, Livardo Alves, Pinto do Acordeon, Santana, Mestre Fuba, Vital Farias, Genival Lacerda, Flávio José (que só se ouve no São João) o próprio Biliu, mesmo Capilé e Niedson Lua, Fuba de Taperoá e difícil... não têm espaço, não são valorizados.



E a nossa maior festa popular deve ser utilizada para divulgação (e deleite financeiro) de cantores do eixo Rio-Minas-São Paulo? Não vejo lógica nenhuma nisso.

E, por fim, não há, de fato, identidade nenhuma desses artistas com a população local e o costume local. Alguns dizem: Não tem que ter, basta que o povo goste e pronto, tem que vir porque é uma festa popular e em festa popular deve prevalecer a multiplicidade de tendências. Ótimo, faça como em Pernambuco, que tem o marco zero como um pólo multicultural. Toca de Tudo, mas com muito, muito respeito mesmo aos artistas e atrações da terra. Em Olinda? Só sobe maracatu, frevo, manguebeat...

No ano passado, dava arrepios só de ouvir aquele sotaque Mineiro de Jorge e Mateus no São João de Patos. Me sentia em Barretos. E novamente: são artistas que, se não têm identidade com a terra, vêm porque os bolsos voltam cheios, vêm para tomar um espaço que, se já não existe na nossa pífia, cheia de jabá e ridícula programação de rádio local não pode ser apoiada pelo Governo, que tem obrigação de promover a participação intensa dos artistas da terra no período junino (e pagá-los também, porque também sabemos que têm trios de forró que ficam meses sem receber...)

Não entro muito nem no que diz respeito à qualidade da cultura(?) produzida por esses artistas(?). Mas só registro que concordo com Dominguinhos quando dizem que (muitos, não todos) são uma grande mentira. De fato. Pra mim, a cultura (e não a moda - que pode acontecer na música, tranquilamente) é aquilo que está impregnado à própria existência da sociedade, e perdura durante o tempo. Alguém pode me dizer qual a música que tocava há 3 anos atrás e que era a moda de Aviões do Forró? Não? Chupa, chupa que é de uva!!!

Pois é. Esse tipo de produção cultural irrelevante a gente chupa - e joga fora. Na verdade, melhor nem chupar, porque é bem indigesto. E depois pode vir: senta que é de menta, lamba que é de manga, beija que é de cereja, arromba que é de pitomba, mexa que é de ameixa, e vai o povo ficando idiotizado. E isso foi só o começo.

E fora toda a sorte de letras que fazem referências explícitas a sexo, a bebedeira gratuita, à consumismo descontrolado...(porque agora não existe mais sutileza não...) e o povo, as crianças, os jovens, de maneira geral, vão se aculturando com o que ouvem mesmo. E se a batida não está dando certo, se o som não é legal, muda-se, contanto que o povo, extasiado e imbecilizado, consuma. Não concordo que isso aconteça em uma festa que, em tese, presta-se à divulgação da cultura local. E o Poder Público deve também se preocupar com esse tipo de propagação deletéria.


Assim, vejo com muito bons olhos a atitude corajosa (de Chico César) e salutar para a Administração Pública e a Cultura Paraibana. Que se faça forró de plástico, funk, samba, rock, sertanejo, seja lá o que for (sou adepto da abertura cultural plena - apesar de ter ressalvas tremendas à muitos estilos, o que é diferente), mas que não seja a nossa maior festa popular o palco para tirar o espaço de quem representa, autenticamente, a cultura paraibana, tão rica e desvalorizada.

Parece que Chico César, que dança o Carimbó, o côco, cultua o forró, o xote, o xaxado, não quer, definitivamente, dançar na posição da rã - futuro hit, acredite, do São João de Plástico, que se não acontecer no Parque do Povo, acontece em outros lugares, certamente.

E para finalizar o pleito de apoio:

Nego forro quer dançar forró
Coco samba do morro
Quer dançar forró
Forró quente feito brasa de fogueira
Beijo de moça solteira
Com medo do caritó
Tum tum tum tlililingue tlilingue
E a secretária bilíngüe
Derretendo no xodó
Xale voa no cangote
Chamego de fazer dó
Dá pra ouvir a gemedeira
A sala numa nota só
É um tal de ui e ai
Mas quem tá dentro não sai
Pois é de nego forro
Esse forró
(Nego Forro - Chico César)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Uma letra - Todas elas Juntas num só Ser - Lenine



Não canto mais Babete nem Domingas,
nem Xica nem Tereza,de Ben Jor;
nem Drão nem Flora,do baiano Gil,
nem Ana nem Luiza,do maior;
já não homenageio Januária,
Joana,Ana,Bárbara de Chico;
nem Yoko,a nipônica de Lennon,
nem a cabocla de Tinoco e de Tonico.
Nem a tigresa nem a Vera Gata
nem a branquinha de Caetano;
nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha,do sertão pernambucano;
Nem Risoflora,a flor de Chico Science,
nenhuma continua nos meus planos;
nem Kátia Flávia,de Fausto Fawcett;
nem Anna Júlia do Los Hermanos.
Só você,
hoje eu canto só você;
só você
que eu quero porque quero,por querer.
Não canto de Melô Pérola Negra,
de Brown e Herbert,nem uma brasileira;
De Ari,nem a baiana nem Maria,
nem a Iaiá também,nem minha faceira;
de Dorival,nem Dora nem Marina
nem a morena de Itapoã;
divina garota de Ipanema,
nem Iracema,de Adoniran.
De Jackson do Pandeiro,nem Cremilda;
de Michael Jackson,nem a Billie Jean;
de Jimi Hendrix,nem a doce Angel;
nem Ângela nem Lígia,de Jobim;
nem Lia,Lily Braun nem Beatriz,
das doze deusas de Edu e Chico;
até das trinta Leilas de Donato
e da Layla,de Clapton,eu abdico.
Só você,
canto e toco só você;
só você,
que nem você ninguém mais pode haver.
Nem a namoradinha de um amigo
e nem a amada amante de Roberto;
e nem Michelle-me-belle,do beattle Paul,
nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;
nem B.B.,la femme de Serge Gainsbourg,
nem,de Totó,na malafemmená,
nem a Iaiá de Zeca Pagodinho,
nem a mulata mulatinha de Lalá;
e nem a carioca de Vinícius
e nem a tropicana de Alceu
e nem a escurinha de Geraldo
e nem a pastorinha de Noel
e nem a namorada de Carlinhos
e nem a superstar do Tremendão
e nem a malaguenha de Lecuona
e nem a popozuda do Tigrão.
Só você,
hoje elejo e elogio só você;
só você,
que nem você não há nem quem nem quê.
De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
de Mário Lago e Ataulfo Alves,
não canto nem Emília nem Amélia,
nenhuma tem meus ''vivas'' e meus ''salves''!
E nem Angie,do stone Mick Jagger;
e nem Roxanne, de Sting, do Police;
e nem a mina do mamona Dinho
e nem as mina ? pá! - do mano Xiz!
Loira de Hervê,Loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel,o Pensador;
Laura de Mercer,Laura de Braguinha,
Laura de Daniel,o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro Rei,o do Baião;
nenhuma delas hoje cantarei,
só outra reina no meu coração:
Só você,
rainha aqui é só você;
só você,
a musa dentre as musas de A a Z.
Se um dia me surgisse uma moça
dessas que,com seus dotes e seus dons,
inspira parte dos compositores
na arte das palavras e dos sons,
tal como Madallene,de Jacques Brel
ou como Madalena,de Martinho
ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry
ou a manequim do tímido Paulinho
ou como,de Caymmi,a moça prosa
e a musa inspiradora Doralice;
se me surgisse uma moça dessas,
confesso que eu talvez não resistisse;
mas,veja bem,meu bem,minha querida,
isso seria só por uma vez.
Uma vez só em toda a minha vida,
ou talvez duas,mas não mais que três!
Só você,
mais que tudo é só você;
só você,
as coisas mais queridas você é:
Você pra mim é o sol da minha noite,
é como a rosa luz de Pixinguinha;
é como a estrela pura aparecida,
a estrela a refulgir do Poetinha;
você,ó floré como a nuvem calma
no céu da alma de Luiz Vieira;
você é como a luz do sol da vida
de Stevie Wonder,ó minha parceira.
Você é pra mim o meu amor
crescendo como mato em campos vastos;
mais que a Gatinha pra Erasmo Carlos,
mais que a cigana pra Ronaldo Bastos,
mais que a divina dama pra Cartola,
que a domna pra Ventadorn,Bernart;
que a Honey Baby para Waly Salomão
e a Funny Valentine para Lorenz Hart!

Só você,
mais que tudo e todas,é só você;
só você
que é todas elas juntas num só ser!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Rock n' Roll, Baratas e a noite de Campina Grande



Sexta feira, chegando de Patos, fui até a Estação Velha, na "Cachaçaria". Há muito não ia naquele lugar e pensei logo o quanto trash a coisa estava por aquelas bandas. Normalmente, dá pra ver logo quando se passa de carro ao lado do estacionamento, que muitas vezes se torna o próprio evento: tampas de carros levantados tocando a tarrachinha, garrafas de qualquer coisa alcoólica em cima dos capôs, popozudas, pitboys e correntes de amarrar navio nos pescoços. Mas vá lá, cada um curte a sua onda.

Uma das coisas que tenho notado a sério em Campina Grande é que a cena musical parece ser muito boa já há algum tempo. Me arrisco a dizer, acho que sem medo de errar, que a qualidade musical das bandas de rock (rock mesmo - punk, indie, britrock, mesmo surf music, rock alternativo) campinenses se destacam mesmo em face das bandas da capital. Agora, o que não existe em Campina é um lugar decente para as apresentações.

De fato, não existe nenhuma instalação onde essas bandas possam se apresentar de maneira adequada.

O Bronx se esforça para ser um lugar legal. E é, na verdade. Mas não tem condições mínimas de estrutura - a banda fica com os instrumentos um em cima do outro, se torna um forno quando está mais cheio - não há ventilação nenhuma (a não ser pelos ventiladores que parecem catalisar a fumaça dos cigarros que impregna até as cuecas e causa uma ressaca triplicada...), tudo é complicado. Além da própria localização, já que o centro da cidade sempre é delicado em relação à violência.

Talvez o Opção Bar esteja no caminho certo para retomar a cena do saudoso Lennon. Tomara que aconteça mesmo.

Mas nada se compara ao que vi sexta. Pra começar, uma escuridão absurda no estacionamento. Nenhuma luz estava acesa em nenhum poste. Breu geral. Show Box - muito legal por sinal. A galera fez um som de muita qualidade, muito animado, e principalmente, com muito Muse.

Mas ao adentrar ao recinto que outrora até foi o lugar melhor de se ir em Campina percebi que a coisa era muito pior: cenário de abandono que poderia servir a qualquer filme de Zé do Caixão: Teia de aranha por todo canto, sujeira absurda em tudo que é lugar, várias cadeiras e tamboretes quebrados, vidros quebrados emendados com durex (no caixa onde se compra as fichas para as cervejas), freezers completamente ruídos pela ferrugem... e por aí vai.

O cheiro no caixa era uma coisa de outro mundo: podre misturado com naftalina e, por cima, aqueles desinfetantes que se compram ainda nos carros de difusora no meio da rua. Subia que ardia os olhos.

Mas o pior ainda estava por vir... depois de notar todo esse cenário (não de uma só vez, mas gradativamente...) estávamos eu e um grande amigo recebendo as nossas cervejas no bar quando, de repente...: "Quem quer casar com a Dona Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?"

Era só o que eu me perguntava quando uma voadora marrom dessas que a gente adora apareceu, sem cerimônia nenhuma, em cima do balcão... ficamos assim, meio atônitos, sem saber exatamente como fazer por uns segundos - segundos estes que também usamos para avisar as meninas que estavam perto e que (claro!) puderam exprimir aquele gritinho característico de pavor... e, depois - como estávamos pagando pelo serviço de entretenimento - avisamos a um dos atendentes do bar.

Ato contínuo, ele veio de lá e eu pensei cá comigo: "Ele vai estraçalhar essa coitada agorinha no balcão, quer ver?"



Ledo engano. Quando menos se espera, o dito atendente vem em direção à barata feito um louco e, de repente, saca de um SBP (terrível contra os insetos. Contra os insetos!) que estava estrategicamente preparado e engatilhado embaixo do balcão e "tsssssssssssiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii" em cima da Dona Baratinha que, cambaleando, cai no chão, numa overdose involuntária, ao som dos Strokes, cantando "Reptilia". Bem que poderia ser "Inseptilia"... (ixe, homenagem à Olímpio).

E aí ficamos todos boquiabertos. O sujeito já estava completamente preparado para as visitas, aparentemente frequentes desses vetores patogênicos de bactérias, vírus, fungos e por aí vai.

Disso não se pode nem desconfiar, pois ainda matamos umas duas que caminhavam alegremente no chão do recinto. E depois ficamos olhando (e avisando) as pessoas que iam até o bar e apoiavam inocentemente, seus cotovelos no balcão, devidamente besuntado de SBP... deplorável mesmo. E depois que olhei para uma das mesas vazias e vi os restos mortais de um prato de batata frita... vou nem dizer o que pensei, né?

O povo de Campina sabe fazer música sim. Precisa é ser, pelo menos, respeitado. As bandas precisam de lugares adequados para levar um som de qualidade, que sabem fazer. E nós... Bem, nós nos contentamos com quase tudo. Quase. Precisamos também frequentar lugares em que as bandas se sintam a vontade para tocar e que nós, enquanto consumidores (de boa música e de um mínimo de estrutura!) possamos curtir sem viver passando perrengues. É o mínimo.


foto: recadosinsanos.com.br

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Rio Beats - Seu Jorge e Monobloco - Chevrolet Hall - 02 de abril



No último sábado, dia 02, vi um negão entrar com uma camiseta onde estava escrito: FILA de uma Égua. Daquelas que podem ser compradas em qualquer feirinha nas capitais do nordeste, mesmo, ou em cidades turísticas. Aliás, meu irmão tem uma, comprada em Pipa, no último Reveillon. No caso do outro negão (Seu Jorge), era de Natal-RN. Podia ser meio esculhambado e tal, mas o negão tava com um puta óculos escuro e, com a moral que está, pode tudo.

Começou com "Chega no Suíngue", mostrando logo que além de uma voz marcante e inconfundível, tem um molejo do samba-funk e gosta da participação intensa da platéia, que foi várias vezes chamada pra cantar junto com ele. Com a flauta transversal em punho, emendou com "América do Norte", "Tive Razão", depois "Carolina" e "Pessoal Particular", deixando claro que a noite seria, definitivamente, de muito suígue, muito samba, soul, funk e charme, sem muito espaço para as canções mais tranquilas. E foi mesmo.

Aliás, uma das mais tranquilas que ele trouxe, lindamente, era do Hyldon, "Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de Sapê)", que inclusive tem uma versão de Paula Toller cantando com Lenine, que ficou muito legal (no DVD acústico do Kid Abelha).

Declamou ainda "Capão Redondo" dos Racionais MC's (que eu não conhecia até então - quando sua veia ator se revelou de maneira mais acentuada) que emendou com "Zé do Caroço" - Numa referência clara - nas duas músicas - às condições sociais do Brasil, condições essas que ele mesmo conhece bem, tendo sido morador de rua.

Muito cavaquinho, muito surdo, muita cuíca para um show em que Seu Jorge mostra que interpreta tanto quanto canta, dançando, chamando a galera pra cantar "São Gonça", "Mina do Condomínio" e até mesmo "Samba Rock" (que eu não esperava no setlist, mas uma das minhas preferidas) e "Hágua" (numa sempre preocupação ambiental). Clímax, tocou "Burguesinha" para encerrar a sua apresentação que terminou por volta de meia noite e meia, em quase uma hora e meia, portanto, de espetáculo. A noite só começava, para os que estavam no Chevrolet Hall e para o próprio Seu Jorge.

A nota ruim é que nunca fui ao Chevrolet Hall para ter um atendimento tão atabalhoado quanto dessa vez. Falta que organização que saltou aos olhos, durante os show e, principalmente, no intervalo, quando se tornou uma verdadeira maratona comprar qualquer coisa no bar. Pareceu, por um instante, que os organizadores não acreditavam muito na própria festa.



De fato, uma hora depois (a outra nota ruim) os tambores começaram a ecoar na casa de show e a galera começou a cantarolar M-O-N-O-B-L-O-C-O! Que beleza, Uh! Monobloco! Entra em cena esse grupo carioca, criado pelos integrantes do Grupo Pedro Luis e a Parede, que é formado por 160 integrantes na sua totalidade, mas que, por óbvio, fora do Rio, viaja com uns 25 membros, entre surdos, cuícas, tamborins, caixas, tamborins, reco-recos e claro, cavaquinho, violão, viola e baixo.

É um show para Marquês de Sapucaí nenhum ficar com inveja: "Lendas da Sereia (Rainha do Mar)", "Coisinha do Pai" e "Vou Festejar" de Jorge Aragão, "Imunização Racional" (Que beleza!) do Tim, "Frevo Mulher", "Aquarela Brasileira", "Taj Mahal", "Fio Maravilha", "País Tropical", "Leme ao Pontal", "Explode Coração (Enredo do Salgueiro - 1993), "Pagode Russo" (do Grande Luiz Gonzaga) são algumas das músicas que exlodiram no palco, fazendo a galera (que não arredou o pé) sambar e pular de alegria em quase duas horas de show.

Por falar em arredar o pé, quem não foi embora foi o próprio Seu Jorge, que participou intensamente de quase todo o show do Monobloco, tomando aquela cerveja gelada e curtindo, sem maiores responsabilidades, o sambão que se instalava no Recife.

Cantaram também (para o delírio da galera recifense) "A praieira" (do Chico Science) e "Anunciação" (de Alceu), e, para mim, o auge, foi quando cantaram "É hoje" (Didi e Maestrinho, interpretada outrora por Caetano):

"A minha alegria atravessou o mar
E ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante
No maior show da terra
Será que eu serei o dono dessa festa
Um rei
No meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra
Cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera
Hoje é dia do riso chorar
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mal olhado eu carrego meu patuá
Eu levei !

Acredito
Acredito ser o mais valente, nessa luta do rochedo com o mar
E com o ar!
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu!
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu"

Aí não pude fazer outra coisa, senão me entregar de vez à passarela.

Eu, Mestre-Sala, rodopiando e reverenciando minha porta-bandeira pelo salão, numa apoteose de apresentação do pavilhão da alegria, como quem desfila na Sapucaí, mas em terras de Maracatu. Difícil de esquecer (como diria o próprio Seu Jorge).