Caríssimos,
É uma pena. Outro dia escrevi por aqui o quão difícil é manter uma cena legal de música e cultura aqui na cidade. Os bares são escassos, os recursos são escassos, a cidade fica, a cada dia mais, aculturada, pobre (de dinheiro e de cultura) e mesmo existindo muita gente bem intencionada, parece sempre que é nadar contra a maré.
Segue o texto de despedida de Ingrid e Hetury, dando conta do fechamento do Bronx. Pedi permissão a eles para reproduzi-lo aqui.
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Toda cidade tem o bar que merece
Se nós nos perguntarmos, ou mesmo perguntarmos a alguém de qualquer parte do mundo o que se teria como ideal de um bar para se curtir na sua cidade, esse alguém provavelmente lhe responderia que o bar teria que ser de fácil acesso, com amplo estacionamento, onde qualquer tostão serviria para o guardador local. Que tivesse cerveja gelada, música ao vivo de qualidade pagável com míseros reais, onde você pudesse se encantar com quem você bem se entendesse sem se sentir desrespeitado ou intimidado, um lugar onde sua turma vivesse de fato em harmonia com o semelhante sem se importar com títulos ou sobrenomes, onde todos vivessem em completa harmonia. Seria possível um lugar assim, onde os seres vivessem suas fantasias em paz? Vos digo que sim, esse lugar de coexistência existe, ou melhor, até ontem existia, bem aqui no centro.
Os fatos que levaram até o encerramento das atividades do Bronx vão virar lenda, porque no fundo não importa o que se diga ou se escreva, no final faltou foi grana mesmo. É muito complicado trabalhar numa cidade onde não existe geração de renda. Vocês se lembram qual foi a última empresa que abriu na cidade que gerasse renda para mais de 1.000 pessoas? E olha que não estou falando de nem 1% da população campinense. Como se sai de casa para curtir sem grana? Não dá!
Como dinheiro gera dinheiro, essa é uma lei do nosso velho capitalismo, estamos indo para onde ele está no momento, porque por mais que as pessoas daqui neguem, um fato é relutante na minha cabeça, não consigo mais viver no marasmo. Por isso vamos a luta, vamos começar de novo.
Numa hora de despedidas são necessários os agradecimentos as pessoas que estiveram sonhando conosco até o ultimo timbre: A Fábio Rolim, Laércio Barros (o benevolente), Nivaldo segurança, Bob, Daianne Porto, Juliana Santos, Raoni Oliveira, Priscila, Caju, Isaac (Equipe Bronx); a todos os músicos daqui, dali e de acolá; aos parceiros e coletivos; aos amigos Helenaldo e Amanda, Adriano, Ivan, Carol e Danilo, Ellen, Poliana, a grande Val Danada, Patrícia, Robitcha, Célio Barros e os meninos super poderosos da Rox, Franz lima e Manu, a Felipanpis. A cada um de vocês, inclusive os esquecidos, o nosso simples OBRIGADO. Somos gratos pela capacidade de vocês em ajudar sem medida o próximo, esse é o significado real de SER humano.
E a você que sempre chegava pra nós e pedia com tanta vontade que desse certo e que agente permanecesse por aqui, desculpa, mas não deu.
Para você que torcia contra, desculpa, mas não deu certo, estamos indo para Fortaleza ver a copa com uns chegados, enquanto você vê pela TV de 14”.
E se foram dois anos de muita música, muitos amigos, sorrisos, abraços e beijos, cerva gelada e um calor danado, mas acima de tudo muita beleza. Como era bonito de ver o Bronx lotado, todos com os punhos cerrados para saudar o presente divino de VIVER.
A Maria Clara e a Cleuda pelas orações e bênçãos, que Deus as abençoe. Amo vocês.
A Ingrid, minha mulher, meu amor é seu, pra todo sempre, amém.
Valeu,
Até breve.
Por Maria, por Helena, por Nós.
Hétury de Araujo Estrela.
Pode-se ter saudade de algo desconhecido? Uma pena! Será que só tem lugar para restaurante e lanchonete badalado na noite de Campina?
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