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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Adriana Calcanhoto - Garden Hotel - 21 de Maio




No último dia 21 foi ver, pela segunda vez (depois de, pelo menos, uns 13 anos - o último show dela foi no Clube Campestre) a gaúcha Adriana Calcanhoto na sua turnê Trobar Nova.

Ainda àquela época (lá por 1995 ou 1996) foram produzidos, pelo menos na minha opinião, os dois melhores discos dela: Senhas e A Fábrica do Poema. Era uma loira lindíssima e nunca me esqueço de um vestido azul realeza com os cotovelos e joelhos à mostra. Eu era um adolescente que consumia (junto com um pequeno e seleto grupo de amigos) ferozmente Adriana, Marisa e a melhor de todas: Bethania.

Sábado aparece já uma bela senhora (no auge de seus 45 anos), de olhos verdes e uma serenidade extrema e de uma voz que é um veludo para os ouvidos. Nem de longe parece alguém que já entrou nua num palco para acompanhar Rita Lee... Mas encantadora, num vestido rosa choque e uma capa verde-amarela.

A serenidade só foi quebrada uma vez, depois que um chato insistente gritou, por umas três vezes: "canta Pão Doce!" e ela, delicada e firmemente respondeu, depois da terceira vez: "já ouvi, não precisa gritar, isso aqui é um teatro...". O povo aplaudiu (pra calar a boca do indivíduo), mas fica aquela tensão a cada passagem de uma música para outra, esperando outro gaiato mal educado gritar qualquer outra coisa. Ainda bem, não aconteceu.

Ela - que parece que ainda está sofrendo com uma fratura no punho direito - trouxe também à Campina Grande para acompanha-la nos violões, Davi Moraes, grande guitarrista e que, certamente, deu ao espetáculo um toque ainda mais primoroso (tendo em vista o grande instrumentista que é - mesmo sem desdenhar a que a própria Adriana é). Ele aliás, está encabeçando um projeto muito interessante chamado "Som e Areia", tendo organizado uma casa em Jericoacoara onde recebe músicos amigos para fazer som. O projeto passa no multishow e tem sido muito interessante.

Começou cantando "Beijo Sem" e emendou "Eu sei que vou te amar" .A partir daí vieram, principalmente, as consagradas "Medo de Amar", "Fico assim sem você", "Esquadros", "Mentiras", "Depois de ter você" que foi cantada junto com "Vambora", "Devolva-me", "Metade", "Canção de Novela", "Inverno", "Mais Feliz", "Maresia".

Não vou negar. Senti falta das músicas dos discos que mais gosto: "Senhas", "Grafitis", "Água Perrier...", mas é de se perdoar: muitas músicas dessa poeta ímpar que, certamente, não caberiam nas pouco mais de hora e vinte de show. Show aliás, curtido intensamente (entre uma cochilada e outra, é certo, mas também com muitas palmas!) pelo galego mais cultural do mundo, Daniel, que chegou, contando a avó que tinha escutado Adriana cantando "Avião sem asa, fogueira sem asa, sou eu assim sem você..."

Como notas positivas, a ótima performance de Val Donato e Daniel Pina como show de abertura. Parece que Val segue num caminho muito legal e com personalidade.

A outra, como respeito ao consumidor, as poltronas estavam todas numeradas, de maneira a evitar aquele tumulto sem sentido em lugares tão apropriados para apresentações como essas. Tomara que se torne um hábito sério.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma letra - O quereres - Caetano Veloso


Apesar de achar que se envolve em assuntos que não deveria (se bem que todos nós fazemos isso, mas sem publicidade e estardalhaço), não se pode negar que, por essa poesia (como músico sou mais Gil) Caetano merece o lugar que tem no cenário nacional. Aproveito para compartilhar o link que tem ele cantando (e matando) Chico Buarque. Vale a pena conferir.

http://www.youtube.com/watch?v=11VPSwInb4M&feature=fvst


Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock 'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em ti é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim

terça-feira, 17 de maio de 2011

Zeca Pagodinho e Santanna - Campina Grande - Mastodonte


Antes de mais nada, é bom que se registre o nome da casa de show: Mastodonte. E claro, todos perguntam o porquê da designação. Lendo (http://www.parahybaconvention.com.br/novo/geral/layout.php?subaction=showfull&id=1295475483&archive=&start_from=&ucat=1&) sobre a casa de show no site do Parahyba Convention Bureau encontra-se a notícia de que, a princípio, o local estava destinado a ser um posto de gasolina. Mas quando começaram as escavações para os tanques, foram descobertos fósseis desse animal pré-histórico. Daí surgiu a intenção, hoje consolidada, de criar um centro turístico onde hoje está o empreendimento que, então, foi batizado com o nome do animal.

As primeiras impressões (antes de chegar à casa de show) não foram as melhores: um engarrafamento daqueles fez com que, em média, se gastasse uma hora para conseguir chegar ao local do evento no km 165 da BR 230 (Lagoa de Dentro - Município de Puxinanã - 10 km de Campina Grande) onde também não tinha mais onde estacionar.

Não havia lugar e, onde havia, existia também o risco de atolar o veículo. Assim, as margens da transamazônica se transformaram em estacionamento, bem como dentro das ruas do Distrito (onde estacionei o meu carro). Bom que a polícia rodoviária estava a postos e não deixou a coisa virar uma verdadeira bagunça.

Dentro, parece que a casa pode vir a ser uma boa forma de termos alguma concorrência que melhore a maneira como somos tratados por outras casas de shows na região. Empresários, há anos, não fazem uma melhora sequer para amenizar o péssimo atendimento (entradas, bebidas, acessibilidade), as estruturas obsoletas, em currais (dentro das casas de show) feitos com andaimes, bebida de má qualidade, acústica terrível.

De fato, a Mastodonte, que não é tão grande assim (deve caber ali umas 8 ou 10 mil pessoas, no máximo) tem boa estrutura. Pendem do teto, muito elegantemente, 15 enormes luminárias que dão um ar de local bem apropriado para formaturas e festas de 15 anos o que - sendo mais perto do que a Quinta da Colina - provocará também concorrência para esses eventos (principalmente por ser bem maior). O teto é arquitetonicamente preparado para propagar o som em todas as direções. Som aliás que estava de muito boa qualidade, registre-se.

O show de Zeca foi muito bom. O maior bom vivant que o Brasil tem na minha opinião estava bem a vontade, animado, tomando a sua cerveja (aliás, a marca dela era o ponto fraco da festa, certamente obrigado pelo patrocinador do cantor...) que era reabastecida sempre que preciso.

O palco repleto de músicos de primeira qualidade, cerca de uns 20 ou 25 para fazer o repertório quase o tempo todo animado. Começou com "Samba pras moças" e depois entrou com "Jura". A partir daí vieram todas as que se espera de um show desse (as que me lembro): "Coração em Desalinho"; "Poxa"; "Maneiras"; "Verdade"; "Vai Vadiar"; "Uma prova de Amor"; "Água da Minha Sede"; "Ratatuia"; "Judia de Mim"; "Casal sem Vergonha"; "Seu Balancê"; "Lama nas Ruas".

O tempo inteiro Zeca se mostrou animado, levantando sempre brindes para a audiência, que, claro, se animava ainda mais, vendo que o próprio artista se diverte, tanto quando o público e, bebendo, como ele.

Terminado o show do Pagodeiro, apesar de muita gente ter ido embora, Santanna entrou para mudar o ritmo, mas não o clima da noite. O povo agora, agarrado, dançava o melhor forró pé-de-serra desse cearense do Juazeiro do Norte, que representa muitíssimo bem a carga cultural que lhe foi legada pelo grande Luiz Gonzaga.

O aboio, as cantigas das rezadeiras e das parteiras, a vida da lide do gado, as agruras do sertão, mas também o amor do caboclo nordestino (aos rabos-de-saia e à terra), dos arrasta-pés, a esperança na chuva, o apego à religiosidade são assuntos que povoam as suas canções, que o povo dançava e cantava com grande animação (até rimou).

Não fiquei até o final, mas ainda escutei, feliz: "A natureza das Coisas"; "Se tu quiser"; "me dá meu coração" (para mim uma das mais bonitas); "Vontade"; "Lembrança de um beijo"; "Pra nunca mais tu me deixar"; "D'estar"... todas elas fazendo o povo suar e já esperar feliz pelas palhoças no Parque do Povo...

Campina e região ganham, aparentemente, um novo empreendimento que começou bem. Com percalços de primeiro show, mas nada que retire o brilho da festa e a promessa de que teremos oportunidade de assistirmos shows com uma estrutura digna, como a cidade merece, sem sermos sempre empurrados para galpões sem estrutura, com péssimo serviço (de restaurante e de som), pagando caro e sendo desrespeitado enquanto consumidores.

A casa, inclusive, anunciou grande show internacional para o próximo mês. Tomara que seja um começo para colocar a cidade na rota de shows culturalmente relevantes, como o da noite de sábado.