No último sábado, dia 02, vi um negão entrar com uma camiseta onde estava escrito: FILA de uma Égua. Daquelas que podem ser compradas em qualquer feirinha nas capitais do nordeste, mesmo, ou em cidades turísticas. Aliás, meu irmão tem uma, comprada em Pipa, no último Reveillon. No caso do outro negão (Seu Jorge), era de Natal-RN. Podia ser meio esculhambado e tal, mas o negão tava com um puta óculos escuro e, com a moral que está, pode tudo.
Começou com "Chega no Suíngue", mostrando logo que além de uma voz marcante e inconfundível, tem um molejo do samba-funk e gosta da participação intensa da platéia, que foi várias vezes chamada pra cantar junto com ele. Com a flauta transversal em punho, emendou com "América do Norte", "Tive Razão", depois "Carolina" e "Pessoal Particular", deixando claro que a noite seria, definitivamente, de muito suígue, muito samba, soul, funk e charme, sem muito espaço para as canções mais tranquilas. E foi mesmo.
Aliás, uma das mais tranquilas que ele trouxe, lindamente, era do Hyldon, "Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de Sapê)", que inclusive tem uma versão de Paula Toller cantando com Lenine, que ficou muito legal (no DVD acústico do Kid Abelha).
Declamou ainda "Capão Redondo" dos Racionais MC's (que eu não conhecia até então - quando sua veia ator se revelou de maneira mais acentuada) que emendou com "Zé do Caroço" - Numa referência clara - nas duas músicas - às condições sociais do Brasil, condições essas que ele mesmo conhece bem, tendo sido morador de rua.
Muito cavaquinho, muito surdo, muita cuíca para um show em que Seu Jorge mostra que interpreta tanto quanto canta, dançando, chamando a galera pra cantar "São Gonça", "Mina do Condomínio" e até mesmo "Samba Rock" (que eu não esperava no setlist, mas uma das minhas preferidas) e "Hágua" (numa sempre preocupação ambiental). Clímax, tocou "Burguesinha" para encerrar a sua apresentação que terminou por volta de meia noite e meia, em quase uma hora e meia, portanto, de espetáculo. A noite só começava, para os que estavam no Chevrolet Hall e para o próprio Seu Jorge.
A nota ruim é que nunca fui ao Chevrolet Hall para ter um atendimento tão atabalhoado quanto dessa vez. Falta que organização que saltou aos olhos, durante os show e, principalmente, no intervalo, quando se tornou uma verdadeira maratona comprar qualquer coisa no bar. Pareceu, por um instante, que os organizadores não acreditavam muito na própria festa.
De fato, uma hora depois (a outra nota ruim) os tambores começaram a ecoar na casa de show e a galera começou a cantarolar M-O-N-O-B-L-O-C-O! Que beleza, Uh! Monobloco! Entra em cena esse grupo carioca, criado pelos integrantes do Grupo Pedro Luis e a Parede, que é formado por 160 integrantes na sua totalidade, mas que, por óbvio, fora do Rio, viaja com uns 25 membros, entre surdos, cuícas, tamborins, caixas, tamborins, reco-recos e claro, cavaquinho, violão, viola e baixo.
É um show para Marquês de Sapucaí nenhum ficar com inveja: "Lendas da Sereia (Rainha do Mar)", "Coisinha do Pai" e "Vou Festejar" de Jorge Aragão, "Imunização Racional" (Que beleza!) do Tim, "Frevo Mulher", "Aquarela Brasileira", "Taj Mahal", "Fio Maravilha", "País Tropical", "Leme ao Pontal", "Explode Coração (Enredo do Salgueiro - 1993), "Pagode Russo" (do Grande Luiz Gonzaga) são algumas das músicas que exlodiram no palco, fazendo a galera (que não arredou o pé) sambar e pular de alegria em quase duas horas de show.
Por falar em arredar o pé, quem não foi embora foi o próprio Seu Jorge, que participou intensamente de quase todo o show do Monobloco, tomando aquela cerveja gelada e curtindo, sem maiores responsabilidades, o sambão que se instalava no Recife.
Cantaram também (para o delírio da galera recifense) "A praieira" (do Chico Science) e "Anunciação" (de Alceu), e, para mim, o auge, foi quando cantaram "É hoje" (Didi e Maestrinho, interpretada outrora por Caetano):
"A minha alegria atravessou o mar
E ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante
No maior show da terra
Será que eu serei o dono dessa festa
Um rei
No meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra
Cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera
Hoje é dia do riso chorar
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mal olhado eu carrego meu patuá
Eu levei !
Acredito
Acredito ser o mais valente, nessa luta do rochedo com o mar
E com o ar!
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu!
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu"
Aí não pude fazer outra coisa, senão me entregar de vez à passarela.
Eu, Mestre-Sala, rodopiando e reverenciando minha porta-bandeira pelo salão, numa apoteose de apresentação do pavilhão da alegria, como quem desfila na Sapucaí, mas em terras de Maracatu. Difícil de esquecer (como diria o próprio Seu Jorge).
Houve um dia, que terminaram sendo muitos, que você dormia ouvindo "Barracão de Zinco" solado em um cavaquinho que seu pai insistia em tentar tocar. Eu não sabia que aqueles acordes mal tirados iriam fazer tanto efeito. Pois fez. E hoje eu sigo encantado seu blog, desavergonhadamente orgulhoso dessas letras que, admitamos, eu tenho algum pedacinho por ai. Toca a escrever, meu filho. E escreva a tocar. Tanto faz. Enquanto isso, eu, feliz...lhe sigo.
ResponderExcluirAdemir Leão