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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Discos da Minha Vida - Tracy Chapman - Tracy Chapman


Eram idos de 1991 ou 92, eu então com meus 13 ou 14 anos quando meu pai comprou o LP (Long Play para os muitos que nem sabem nem o que é isso) do que eu julguei, como quase todo mundo naquela época, ser um ótimo cantor.
Pois é, cantor mesmo. Somente depois é que soube que aquele era o álbum de estréia dessa norte-americana que, então, já contava com quatro Grammy Awards por um dos mais bem sucedidos álbuns de música contemporânea da década de 80 para cá.
O disco foi primeiramente conhecido aqui no Brasil através da música "Baby can I hold You" que estava na novela Vale Tudo (aquela da Odete Roitman e na qual Reginaldo Faria no final dá uma singela "banana" para o Brasil de dentro de um helicóptero...) e a partir daí era obrigatória em toda rádio de norte a sul do país e, é claro, nos "assustados", junto com "Yes" e "Take my breath away".
Mas essa talvez seja a música menos elaborada do disco.
Na realidade, essa artista, que tem influência no R&B, jazz, música folk norte americana e blues construiu um disco que muito além de baladinhas como a que citei acima, está muito mais ligado à construções políticas do que propriamente ao romantismo puro e simples.
De fato, ela mesma, por sua influência no meio acadêmico norte-americano (de onde verdadeiramente surgiu, fazendo shows com seu violão) e exatamente por suas canções de cunho político, acabou se integrando à Anistia Internacional, participando inclusive de turnês promovendo os Direitos Humanos depois desse primeiro trabalho.
Na verdade, não fosse por "Baby can I hold You" encravada no meio do disco, ele estaria quase dividido em duas partes (como efetivamente acontece no LP), a primeira ativista e, a segunda, romântica.
"Talkin' Bout a Revolution" abre o disco com um violão suave, mas logo a batida pesada acompanha a letra que já nasce falando de uma revolução sussurrada, na surdina, mas que finalmente "estava fazendo as coisas mudarem...", apontando para o que acontecia nas filas da assistência social, dos desempregados, e que as pessoas pobres estariam prestes a pegar o que lhes pertence.
"Fast Car" foi das músicas também mais executadas do disco, no mundo inteiro, e também é uma música que fala do sonho de liberdade, de poder escolher seus próprios caminhos e de ser alguém. Um som bem folk, com muito violão e ótima de cantar no carro, correndo...
"Across the Lines" é também música tipicamente de cunho político, com uma bateria de vassouras de metal e um piano perfeito, denunciando discriminações nos guetos dos Estados Unidos e mundo afora, assim como faz "Behind the Wall", cantada à capela, mostrando a indiferença em relação à violência nas periferias.
Aparentemente muito além de seu tempo, em "Mountais O'things" Tracy começa desejando mais ou menos como faz Zé Rodrix em "Casa no Campo", mas já está completamente antenada no consumo desenfreado (e fútil) e pede para que todos "renunciem a tudo que for obtido através da exploração humana". Bem vanguardista para os anos 90, que foi bem morno com relação à políticas humanitárias. Tudo isso numa levada completamente africana com flautas e bongôs fantásticos.
Se fosse escolher uma música para representar o total do disco, essa música seria "She's Got Her Ticket". A letra fala de alguém que quer andar por aí, sem medo de nada, sem poder ser parada por nada ou por ninguém. Mas o que impressiona, além da música muito bem construída, é a levada folk, com um solo de guitarra que é completamente limpo e marcante, como a própria música. A guitarra vai "cantando" e Tracy cantando "And she'll fly, fly, fly..." e uma bateria seca acompanhando tudo. É ouvir e se encantar.
Chegando ao final, Tracy pergunta (em "Why) "por que os projéteis são chamados de guardiães da paz" ainda em meio à influência da Guerra Fria, mantendo o sentido político do disco e entra nas músicas verdadeiramente românticas (depois de Baby can I hold You).
"For My Lover" fala de um amor sacrificado, disposto a tudo, que tudo suporta, que tudo espera - pois é. É quase uma Epístola moderna de Tracy Chapman aos Coríntios... com uma guitarra pesada folk.
Daí parte para perguntar "If not now, then when" em relação a um amor impaciente e se descontrola completamente em "For You", dizendo não ser dona de suas próprias emoções e fechando um disco com uma batida de violão muito agradável.

Por tudo isso, por essa mistura completamente moderna, aliado à elementos africanos e letras bem construídas levadas por uma voz absolutamente inconfundível, que agrega tantos estilos, esse seria, certamente, um dos discos que fariam parte da minha Arca de Noé, caso desse tempo de me preocupar com tais sobrevivências culturais.
Ainda roda comigo, no carro, em MP3 e ainda tenho em casa o LP dessa artista que, apesar de depois do primeiro espetacular álbum, ter saído um pouco da mídia, ainda continua, até hoje, sendo muito prestigiada em seus discos e excursões.

2 comentários:

  1. Amei o post! A cada parágrafo que lia, as citadas canções eram executadas na minha radiohead. =D

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  2. Preto, temos uma forja musical bastante parecida... Então escolhi o post da artista que fala inglês que mais gostei pra dizer, cara pálida, tens onze posts, e 4 são falando dessa gente estranha que fala esquisito, e pior, sem estar legal!! Ou então estás ficando legal e nem me chamando, o que é pior!
    Tudo bem, tudo bem, chatisse a parte, pode ter os 4 de ingleses, mas bem que podia ter 4 de armênios, 4 de franceses, 4 de bulgaros, 4 de angolanos, 4 de chineses, 4 de tibetanos 4 de......................

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