Não me lembro exatamente quando e nem onde, mas um dia desses vi alguma coisa a respeito de uma lista que era proposta por uma pessoa, questionada sobre quais os discos que salvaria se, por um acaso do destino, acontecesse alguma tragédia em que só fosse possível salvar 10 obras.
Algumas revistas especializadas chamam essa seção de “discos da minha vida” ou qualquer coisa que o valha. Então vamos lá.
O primeiro disco que eu salvaria no caso de acontecer o que se prevê no cinema e em algumas previsões menos otimistas em 2012 seria Jagged Little Pill, de Alanis Morissette (1996).
Quem me apresentou ao disco foi Breno, grande amigo e companheiro de inúmeras ocasiões enquanto estudava em João Pessoa, lá na Praça dos Três Poderes.
Esse é um disco que me lembra desse tempo, de coisas boas, mas também é um disco que representa muito, na minha visão, para o Rock n’ Roll contemporâneo.
As letras do disco são resultado de uma compositora (a própria Alanis) cheia de raiva, rancor, ressentimento, desespero que se manifesta nos versos de canções que falam de vingança, de ódio e muita dor, de falta de honestidade, de pressão em todas as formas, da solidão e de amores não correspondidos que sangram em forma de gritos, mas também de perdão, de busca pelo amor próprio e por altruísmo na própria vida.
Alguma vezes tenta avisar como a vida é difícil (e como ela também ensina), como o caminho é longo e algumas vezes tomamos caminhos errados e de como é difícil reencontrar a direção certa (ainda que em cada tropeço e dificuldade possa-se encontrar razão para seguir), o amor verdadeiro, as razões de viver, a honestidade, a felicidade.
Acho que “You Oughta Know” resume bem todas as misturas de sentimento do disco e é uma daquelas músicas que, de uma forma ou outra, todos que a escutam já tiveram vontade de cantá-la gritando para alguém. Confessional, sem dúvida nenhuma, em relação à própria Alanis, que fez do disco uma mensagem. Para mim é a melhor de todas elas.
E isso tudo é feito de maneira tão musicalmente forte que é impossível não escutar todas as faixas, uma após a outra e não achar que havia ali uma clara ligação entre as músicas, como se fosse parte de uma mesma conversa, divididas apenas em assuntos para facilitar a construção do disco.
O disco todo é um grito. Em todas as faixas Alanis vai aos píncaros de sua potência vocal, junto com as guitarras e com uma gaita (tocada por ela mesma) que se encaixa completamente com as suas performances no palco, agindo feito uma louca, girando em círculos, balançando os cabelos, inundada pelos sentimentos das letras e pela densidade do seu som pesado.
Não poderia ser para menos. Foram 6 indicações ao Grammy e a canadense levou 4 deles, inclusive, álbum do ano. Nunca nenhuma cantora feminina vendeu tanto num álbum de estréia e, no Brasil, vendeu 250 mil cópias.
O disco foi lançado na sua forma acústica 10 anos depois de seu lançamento original. Uma Alanis mais comedida no uso da sua voz aparece, ladeada por violões, piano, e por uma bateria que usa quase sempre baquetas de vassoura, cantando as mesmas músicas que a levaram ao topo de todas as paradas internacionais. Dá uma versão musicada para a música “Your House” que aparece quase um minuto depois da última faixa do disco original em forma de poema, só vocal.
Se foi uma jogada de marketing, para dar uma alavancada na sua carreira e na sua música (que ficou até meio experimental por uns discos, andando até pela eletrônica) tudo bem, mas ainda vale a pena – talvez (e sobretudo) para os que acham Jagged Little Pill uma pancada. Mas quem gosta da Alanis escuta só uma vez o acústico e volta a escutar o original, pesado e desesperado. Esse para mim é o espírito do disco e por isso ele é tão bom que valeria salvá-lo de qualquer Armageddon.
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