A primeira vez que ouvi Lenine, cantava ele no carnaval do recife antigo, acho que em 1998 ou 1999, num show que fazia com Antônio Nóbrega e Alceu Valença.
Vi o povo do Recife cantando "Marco Marciano" como se fora um hino, e o maestro se emocionava com a força daquele momento, em que cantava como se estivesse em casa.
A partir daí adquiri, primeiro, "O dia em que faremos contato", lançado em 1997, eis que era, dos que já tinham sido lançados, o disco de maior penetração comercial, apesar de Elba Ramalho já ter cantado o outro hino pernambucano, Leão do Norte.
Nessa época, já começava a arranhar meu violão (arranho até hoje) e percebia que fazer a batida que é marca registrada do cabeludo não era nada fácil.
Aliás, até hoje, a batida de Lenine, onde quer que seja ouvida, é identificada. É única, é o próprio Lenine.
Apesar de ter forte influência musical que passa pela nordestinidade de Luiz Gonzaga e do movimento contemporâneo à sua própria ascensão, o mangue-beat de Chico Science (que musicalmente ainda continua muito vivo em razão da cultura pernambucana - Nação Zumbi ainda é fenomenal!), Lenine vai muito mais além.
Talvez por ter a característica camaleônica, como ele próprio define, Lenine faz uso, ao mesmo tempo, da cultura erudita e da cultura hip-hop, do lirismo de uma harpa e da energia de um Iggor Cavalera, Pick-ups e repentes em seus shows e discos, que recebem desde uma Julieta Venegas à Caju e Castanha.
Talvez isso faça Lenine ser aplaudido no Marco Zero e na Citè de La Musique, na França, reconhecido pela universalidade da sua música, presente em todos os elementos dos quais se utiliza.
Mas não é só. Lenine não só canta, mas toca, produz, arranja, compõe, atua. E também por isso tem desenvolvido um respeito que parte de todos, desde os que são produzidos por ele, como Maria Rita e Chico César, mas de todos os críticos e dos artistas que disputam a chance de contar com uma participação sua nos seus discos, seja um Lula Queiroga, com quem mantém uma parceria em músicas que marcaram a sua carreira (como em "A ponte"), ou uma Maria Bethania (em "Nem o Sol, Nem a Lua nem eu", maravilhosamente interpretada por ela em Maricotinha), seja um Suzano ou um Francis Hime.
Mas nada do que Lenine faz nos seus discos pode ser maior do que a sua presença de palco. É um artista que, claramente, gosta de poder usar a sua música como instrumento que desperta os mais diversos sentimentos nas pessoas, que cantam e sentem as letras inteligentes, nem sempre fáceis, mas que, junto com a sua pegada forte no violão e suas dissonantes, leva sempre o público ao delírio.
Vi um dia Lenine, há alguns anos, em João Pessoa, quando teve seu show aberto pela "Cabruêra", quando esta despontava de maneira promissora no cenário musical paraibano. Era um carnaval numa cidade que não tem carnaval. Mas com Lenine, sempre tem muito mais: tem Carnaval, tem ciranda, tem côco, tem repente, tem São João, tem Vibe, tem rock, tem som, tem energia de um Pernambucano que não pára.
Dançamos, cantamos, eu e minha irmã, num dia em que o céu estava lindo e ainda foi colorido por fogos de artifício, enquanto estávamos deitado no chão secular da ladeira do cetro histórico, descendo para o porto do Capim.
Manuel António Pina – Poesia – 23/11/24
Há 2 horas
Dema, fenomenal sua impressão sobre Lenine. Vc sabe que eu gosto muito de musica, fiquei bastante feliz com seu blog! Parabéns pela inciativa. Ninguem do meu ciclo de amizades conheço tanto sobre musica quanto vc! Vou acompanhar sempre!
ResponderExcluirApesar de suspeitíssimo pra falar, posto que sou o autor do escritor, travisto-me com o máximo de auto-crítica para, tentando se justo e imparcial, testemunhar que ainda não tinha lido nada tão próprio á respeito de Lenine. O autor se não o conhecia pessoalmente (e eu sei que não), deixa claro a ligação extra-corpórea. E que tem, como testemunhas privilegiadas, cada uma das cordas do seu querido violão. Arre, meu filho, controlo a inveja para dizer que você saiu bem melhor que eu.
ResponderExcluirSeu pai.
Ademir Leão
Deco, eita que até deu saudade! =]
ResponderExcluirLenine é isso tudo mesmo! Seja em Paciência debaixo da chuva (ainda bem que foi depois dos fogos de artifício), em Alzira e a Torre (também nesse show de JP misturada às emboladas de Biliu de Campina.) Sempre me chamaram atenção as que parecem intermináveis e dificílimas de se memorizar, como Todas elas juntas num só ser ou Do It. No Labiata ele consegue trazer canções de forte conteúdo ambiental e elas soam perfeitas. É como dizer que o mundo está morrendo em poesia.
Irmão, amei seu blog de cara! Beijos.