"Para Dé, a nota Sol da minha Vida"
É o que está escrito por meu pai em março de 1995 na capa de um dos melhores discos que já escutei na minha vida e que, certamente, faz parte da história recente do reggae no mundo inteiro.
“Promisses and Lies” é o décimo disco da banda UB40. Antes dele eu já havia escutado "Rat in my kitchen" quando tinha meus 13 anos por influência de um amigo chamado Marcos Paulo Lustosa, cearense que adorava os caras.
A banda é formada em Birmingham, em 1978, quando parte do futuro grupo, desempregados, esperavam para preencher um formulário de desemprego (Unemployment Benefit form 40) e acabaram, como numa dessas coincidências da vida, resolvendo fazer música. O próprio Formulário, o UB40, se tornou capa do seu primeiro álbum, que se chamou “Signing Off". Uma sacada muito especial, não é demais perceber...
As questões sociais, bem como o posicionamento na defesa dos negros e excluídos, os guetos, sempre foram presentes na banda. Mesmo assim, a mistura de ritmos, o reggae aliado ao Dub (som bem característicos da classe baixa na Inglaterra, difícil de entrar nas paradas) acabou sendo muito bem recebida pela classe média branca inglesa que se tornou o público alvo da banda durante toda a sua existência (hoje atingindo todas as classes...). As influências vão de Neil Diamond (de “Red, red wine”, regravado pela banda e grande sucesso – para muitos o que desponta o grupo para a grande mídia) até Afrika Banbaataa, passando, obviamente, por Marley, Tosh e toda cultura rock e pop dos anos 80.
Mas Nenhum dos álbuns até então chegaram nem perto de “Promisses And Lies”, que se tornou o álbum mais vendido do grupo com mais de nove milhões de cópias vendidas. A música que dá nome ao disco e “Can’t Help Falling in Love” levaram a banda ao seu terceiro n.1 no Reino Unido e continuaria a ser um favorito em estações de rádio americanas nos anos seguintes, especialmente após a sua inclusão na trilha sonora no filme Sliver, com Sharon Stone, em 1993.
Em minha opinião, “Bring me Your Cup” é a melhor do álbum. E apesar do cunho social permear sempre os discos da banda, esta disco é especialmente diferente, pois desde a sua configuração de capa e encarte, com gravuras do próprio Ali Campbell, está muito voltado para representação do amor, da contemplação e celebração da vida. Aliás, C’est La Vie abre o disco de maneira magistral, falando das agruras da vida, e o disco segue falando sobre fé, sobre companheirismo, cumplicidade, sobre seguir em frente, sobre amizade (em Reggae Music, cantada por Astro, falando da amizade entre os membros da banda...) e desemboca na grande estrela do disco, que ficou durante 9 semanas consecutivas como número 1 na Inglaterra, a regravação de “Can’t Help Falling in Love”, famosa na interpretação de Elvis.
Mas o que encanta mesmo, e envolve, é a batida de reggae sempre envolvida por Dubs, muito metal, e muito, muito trabalho vocal de todos os integrantes, que formam um coral em praticamente todas as músicas. É um passeio musical magistral, que se escuta do começo ao fim, sem pular nenhuma faixa.
Termina, num disco quase todo feito para cantar o sentimento, num apelo negro, dizendo:
“If you say sorry
Can I assume you've realised the shame
The seeds of your oppression
Fall and ripen with aggression
You can't hold us any longer with your chains
Time to compensate us for our claims”
(Sorry)
O vocalista Ali Campbell saiu do grupo em 2008, depois de trinta anos. Até já se apresentou no Brasil, utilizando a mesma lógica que levou o UB40 a ser o grupo de reggae de maior sucesso de vendas da história, mas agora sozinho. No UB40, para substituí-lo, chamaram o irmão, Duncan Campbell, como vocalista.
Esse disco, atemporal, está sempre na agulha. E na minha trilha pessoal, tem lugar garantido.
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