Apesar de há muito ouvir falar, nunca tinha ido até a fria cidade de Garanhuns para participar do Festival de Inverno. E realmente, fiquei muito impressionado com a organização do evento e, principalmente, com as atrações do mesmo, espalhadas entre os dias 14 a 23 de Julho.
E é bom que sejam citadas, apenas pra não ficar na impressão de que é um show isolado: Geraldo, Alceu, Pato Fu, Otto, Frejat, Nando Reis, Gal Costa, Marina Lima, Marcelo Camelo, Fafá de Belém, Elba, Roberta Sá, Margareth Menezes, Nação Zumbi, Siba, Seu Jorge, Daúde, Luiza Possi, Karina Buhr são apenas as atrações principais no palco que é chamado Guadalajara. Além desse palco, espalhados pela cidade, outros palco dão oportunidade de conhecer música erudita, dança clássica e contemporânea, folguedos populares, arte circense e uma série de outras oficinas ligadas à cultura popular brasileira e da região.
Garanhuns é uma cidade com pouco mais de 130 mil habitantes, de clima extremamente agradável na região do Planalto da Borborema e exatamente por isso é chamada de Suiça Pernambucana. Verão ameno e inverno bastante frio.
Só tendo chegado à noite, pouco consegui (além dos shows, é claro) peregrinar para conhecer tudo que o festival oferece, o que só me deixou na certeza de que é evento para ficar uma semana inteira, bebendo da cultura promovida de maneira tão organizada como nesse festival, que deveria servir de modelo para os festivais da Paraíba que, à míngua, vão, ano a ano, se acabrunhando, sobrevivendo em razão de um esforço sobre-humano de meia dúzia de apaixonados pela cultura.
O primeiro show, depois da apresentação do grupo Samba e Mesa Autoral foi o de Beth Carvalho. Ela, que há cerca de dois anos operou a coluna - e por isso se movimenta com moletas e o show aconteceu com ela sentada atrás de uma mesa - mostrou uma energia e simpatia que contagiaram a audiência.
De fato, um show emocionante da madrinha de Zeca Pagodinho, que cantou todos os seus clássicos de samba, de frevo, de marchinhas de carnaval, de músicas românticas, muitas delas que habitam o meu tempo de criança e adolescente, ouvindo-a, juntamente com Agepê, João Nogueira, Alcione, Fundo de Quintal, Martinho da Vila e Clara Nunes.
Andanças, Água de Chuva no Mar, Acreditar, Vou festejar, 1800 colinas, A Chuva cai, Dor de Amor, Tendências, Coisinha do Pai, Corda no Pescoço, Saco de Feijão, foram algumas das que encantaram a platéia, que mesmo debaixo de alguns momentos de chuva razoavelmente forte, não arredaram o pé nem um segundo. E a Liga, toda de Ponchos de plásticos e regada a um bom 12 anos, curtiu o show numa animação só.
Depois de Beth sobe ao palco Jorge Aragão. Sambista de primeira linha, da estirpe de um Arlindo Cruz, Sombrinha, Zeca, João Nogueira. O Negão carioca, um dos fundadores do "Fundo de Quintal", trouxe o melhor de seu repertório para a madrugada fria (já perto das duas da manhã) para Garanhuns. De característica sempre melodiosa, seus sambas cantam o amor, a saudade, o sofrimento do negro. Uma banda aplicadíssima (e Jorge tem fama de extremamente exigente com sua qualidade musical e, consequentemente, seus músicos) faz um som envolvente, não deixando ninguém sem cantar seus grandes sucessos.
Eu e você sempre, Conselho, Identidade, Falsa Consideração, Coisa de Pele, Papel de Pão, Loucuras de uma Paixão, Moleque Atrevido, Malandro, Feitio de Paixão, Você Abusou, Encontro das Águas, Amor Estou Sofrendo, Logo Agora e por aí vai...
E por fim, ainda teve a Unidos da Tijuca pra fechar, a chuva apertando, o gas acabando e o povo insistindo em ficar... Até que fomos praticamente obrigados a retornar para a Van com destino a Campina Grande, cidade que deveria aprender com Garanhuns como é que se deve incentivar a cultura de uma cidade e de um povo.
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