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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Lenine, Festival de Inverno de Garanhuns, 18 de Julho de 2015

Lembrei de certa vez, com o grande amigo Sevé, nas ruas do Recife antigo, depois de ter passado o dia - e parte da noite - em Olinda (coisa que já não se faz mais...) e estávamos então vendo um Lenine fazendo a plateia cantar "Marco Marciano", numa das imagens musicais mais forte que tenho até hoje. No mesmo dia vimos Antônio Nóbrega, Moraes Moreira. Numa outra vez, da mesma forma marcante, eu estava num show com minha irmã, Deyna, na praça Antenor Navarro, em João Pessoa, oportunidade em que Lenine tocava num palco tão baixo, que lembro de minha irmã dizer que quase dava pra agarrar as madeixas dele... naquele dia, vimos fogos de artifício deitados, descendo pro porto do capim... Depois de ver o show da Cabruêra.
Dessa vez, a platéia também estava emocionada, pois que dois dias antes, 'seu Geraldo', pai do cantor, havia falecido, e apesar da especulação de cancelamento, ele resolveu manter sua apresentação. De preto, visivelmente contido em alguns momentos, Lenine trouxe a emoção do começo ao fim, e parece que o mote do Carbono - elemento tão ligado à todos os ciclo da vida, e da morte - nome do seu disco, se tornou fatalmente apropriado para o momento, quando ele anunciou que todas as noites, aquela presente e 'as que vieram e as que virão' eram dedicadas ao pai. E a letra de 'Castanho', ao anunciar que "o que eu sou, eu sou em par; não cheguei sozinho" de cara já dava o tom desse show emocionante. Aliás, esse refrão começou - e encerrou - a noite.
Debaixo de uma chuva considerável, e de um frio bem mais considerável ainda (14ºC), o Disco que dá nome à turnê foi a espinha dorsal do show, e vieram "O impossível vem pra ficar", uma letra lindíssima, numa levada em contratempo tão marcante de toda a carreira e de tantas músicas; "Cupim de Ferro" (pra mim, a mais foda de toda o disco), numa parceria inédita - "pagando um débito" que ele e a Nação tinham, reciprocamente; "Grafite Diamante", que brinca com versos e contrastes; "Quem leva a vida sou eu" - ( A vida é pra se louvar, venha o que vier, valha o que valer!) e "Simples Assim", essa, pra mim, a letra mais bonita do disco: 'E a vida continua surpreendentemente bela Mesmo quando nada nos sorri; E a gente ainda insiste em ter alguma confiança Num futuro que ainda está por vir; Viver é uma paixão do início, meio ao fim; pra quê complicação? É simples assim.').
Dizendo que no setlist que preparou para o show, algumas músicas não haviam sido contempladas (certamente por simples impossibilidade do tempo de show, e não de importância), Lenine, à pedidos da plateia, cantou, primeiro, "Paciência". E na verdade, ele mal cantou, porque deixou a platéia, completamente emocionada, cantando, enquanto ele, sozinho no palco, empunhava sua guitarra, conduzindo a todos. Logo após, o hino 'popular' de pernambuco, "Leão do Norte" levantou a audiência, ainda que também tocada apenas com a guitarra.
Vieram as outras escolhidas: A rede, Paciência, Na Pressão, Meu amanhã, Candeeiro Encantado, e por ai o show se desenrolou sempre muito emocionante, mas cheio de suingue, como é típico de Lenine.
Não quis sair do palco para ser ovacionado e voltar para o bis. Explicou que essa coisa de 'fazer cu doce', era só perda de tempo. Melhor ficar ali no palco e ganhar tempo com mais músicas... Certissimo!
E assim tudo se desenrolou até quase quatro da manhã, debaixo de chuva e frio (aplacados com vodca), na companhia agradável de amigos (Fernando que fez a foto do topo do texto) e do meu irmão Vinicius (esse ser evoluído em todos os aspectos).

Lenine, um dos artistas mais completos do Brasil - e com projeção considerável mundo afora - com esse disco (que foi feito e mixado em dois meses) e esse show, mostra sua capacidade de criações que são, não só do ponto de vista musical (agora com o retorno de bastante bateria e percussão, que estavam sendo um tanto quanto preteridas - o disco vem bastante voltado à cultura pernambucana, com várias marchas, cirandas, frevo, maracatu, manguebeat) mas sobretudo conceitual, muito completos e complexos. A escolha de temas centrais que formam uma espécie de guia temático (explicados por ele mesmo em várias entrevistas) como em outros discos (Labiata, O Dia em que faremos contato, Chão) agora mostra, em diversas composições da obra, como o Carbono, de ligações tão simples e de infinitas representações a partir dessa simplicidade, representa uma riqueza que pode muito bem ser entendida entre o grafite que foi usado para rabiscar a capa do disco e o diamante em que, lapidado, se torna o carbono.

É quase o grande segredo da vida!



quarta-feira, 5 de junho de 2013

Discos da Minha Vida: "Promisses And Lies" - UB40


"Para Dé, a nota Sol da minha Vida"

É o que está escrito por meu pai em março de 1995 na capa de um dos melhores discos que já escutei na minha vida e que, certamente, faz parte da história recente do reggae no mundo inteiro.

“Promisses and Lies” é o décimo disco da banda UB40. Antes dele eu já havia escutado "Rat in my kitchen" quando tinha meus 13 anos por influência de um amigo chamado Marcos Paulo Lustosa, cearense que adorava os caras.


A banda é formada em Birmingham, em 1978, quando parte do futuro grupo, desempregados, esperavam para preencher um formulário de desemprego (Unemployment Benefit form 40) e acabaram, como numa dessas coincidências da vida, resolvendo fazer música. O próprio Formulário, o UB40, se tornou capa do seu primeiro álbum, que se chamou “Signing Off". Uma sacada muito especial, não é demais perceber...


As questões sociais, bem como o posicionamento na defesa dos negros e excluídos, os guetos, sempre foram presentes na banda. Mesmo assim, a mistura de ritmos, o reggae aliado ao Dub (som bem característicos da classe baixa na Inglaterra, difícil de entrar nas paradas) acabou sendo muito bem recebida pela classe média branca inglesa que se tornou o público alvo da banda durante toda a sua existência (hoje atingindo todas as classes...). As influências vão de Neil Diamond (de “Red, red wine”, regravado pela banda e grande sucesso – para muitos o que desponta o grupo para a grande mídia) até Afrika Banbaataa, passando, obviamente, por Marley, Tosh e toda cultura rock e pop dos anos 80.

Mas Nenhum dos álbuns até então chegaram nem perto de “Promisses And Lies”, que se tornou o álbum mais vendido do grupo com mais de nove milhões de cópias vendidas. A música que dá nome ao disco e “Can’t Help Falling in Love” levaram a banda ao seu terceiro n.1 no Reino Unido e continuaria a ser um favorito em estações de rádio americanas nos anos seguintes, especialmente após a sua inclusão na trilha sonora no filme Sliver, com Sharon Stone, em 1993.


Em minha opinião, “Bring me Your Cup” é a melhor do álbum. E apesar do cunho social permear sempre os discos da banda, esta disco é especialmente diferente, pois desde a sua configuração de capa e encarte, com gravuras do próprio Ali Campbell, está muito voltado para representação do amor, da contemplação e celebração da vida. Aliás, C’est La Vie abre o disco de maneira magistral, falando das agruras da vida, e o disco segue falando sobre fé, sobre companheirismo, cumplicidade, sobre seguir em frente, sobre amizade (em Reggae Music, cantada por Astro, falando da amizade entre os membros da banda...) e desemboca na grande estrela do disco, que ficou durante 9 semanas consecutivas como número 1 na Inglaterra, a regravação de “Can’t Help Falling in Love”, famosa na interpretação de Elvis. 

Mas o que encanta mesmo, e envolve, é a batida de reggae sempre envolvida por Dubs, muito metal, e muito, muito trabalho vocal de todos os integrantes, que formam um coral em praticamente todas as músicas. É um passeio musical magistral, que se escuta do começo ao fim, sem pular nenhuma faixa.

Termina, num disco quase todo feito para cantar o sentimento, num apelo negro, dizendo:

“If you say sorry
Can I assume you've realised the shame
The seeds of your oppression
Fall and ripen with aggression
You can't hold us any longer with your chains
Time to compensate us for our claims”
(Sorry)

O vocalista Ali Campbell saiu do grupo em 2008, depois de trinta anos. Até já se apresentou no Brasil, utilizando a mesma lógica que levou o UB40 a ser o grupo de reggae de maior sucesso de vendas da história, mas agora sozinho. No UB40, para substituí-lo, chamaram o irmão, Duncan Campbell, como vocalista.

Esse disco, atemporal, está sempre na agulha. E na minha trilha pessoal, tem lugar garantido.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Um vídeo - Clarice Falcão - Monomania

Uma obra prima. Como as músicas boas são: simples.

Já te fiz muita canção
São quatro, ou cinco, ou seis, ou mais
Eu sei demais
Que tá demais

Eu chego com um violão
Você só tá querendo paz
Você desvia pra cozinha
E eu vou cantando atrás

Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é

Se juntar cada verso meu
E comparar
Vai dar pra ver
Tem mais você que nota dó
Eu vou ter que me controlar
Se um dia eu quero enriquecer
Quemvai comprar esse cd
Sobre uma pessoa só?

Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é