Mais um Carnaval no trecho Olinda-Recife. Um circuito onde apesar do carnaval ser também uma festa de elite (não é Rachel Sherazade? - Vide Youtube) apresenta também, para os que ainda querem fugir de toda a porcaria (que consumimos, claro, com todas as "foge, foge mulher maravilha, foge, foge, superman!"), de maneira satisfatória, acesso à boa música, a espetáculos de cultura popular efetivamente para o povo (pois nem olinda tem camarote vip na Ribeira nem nos Quatro Cantos nem o Marco Zero tem front-stage...).
Mas vamos lá. Primeiro, em virtude de um trânsito realmente pesado entre Campina e Recife (na verdade saindo de João Pessoa - tive de ir pela rota do sol até Jacumã e de lá sair pela BR 101...) acabei chegando muito tarde em Recife e, talvez, tenha perdido uma das maiores apresentações de música popular (feminina) dos últimos tempos: Ana Canas, Céu, Elba, Pitty (que não estava na programação inicial), Roberta Sá, Marina Lima, Mariana Aydar, Izaar, Karina Buhr, Maria Gadu, Nena Queiroga, Zélia Duncan, Fernanda Takai.
Só deu tempo de ver, de longe, ainda chegando, Pitty cantando "Me adora", Mariana Aydar (que depois dividiu o Palco com Elba) e a última música, onde todas cantaram, junto com o Diretor do Espetáculo (que tem roteiro de Braulio Tavares!!!), Lenine, uma música chamada "Sob o mesmo Céu", que é, inclusive, o nome original do show (que foi chamado agora de "Mulheres do Brasil"), que inicialmente trazia Fafá, Alcione, Sandy, Vanessa da Mata, Fernanda Abreu, Elba, Margareth Menezes e Ana Carolina.
O que deu pra ver, ainda que somente no fim, foi um espetáculo cuidadosamente preparado com todo o talento de Lenine que, aliás, no dia seguinte se apresentou com Vanessa da Mata.
Ele, claro, talvez seja o artista pernambucano mais prestigiado atualmente. O que lhe dá, inclusive, a possibilidade de fazer música quase experimental no sábado de carnaval, mesmo para uma platéia que sempre está disposta a pular freneticamente. Um show mais melodioso, talvez, com participações especiais de artistas da cultura africana. Tcheka, de Cabo Verde, e Blick Bassy, de Camarões, foram os convidados.
Mesmo assim, “Aquilo que dá no coração”, “Martelo Bigorna”, "Dois Olhos Negros", “Voltei Recife”, “Paciência”, "Lavadeira do Rio", "Candeeiro Encantado", "A Rede", "Aquilo que dá no coração", "Voltei Recife", "Relampiano", foram algumas das que foram tocadas. Lenine retorna, duas vezes, para o bis, para encerrar de verdade, cantando "Alzira e a Torre", efusivamente cobrada pelo público, a quem responde:"poxa, a gente tenta fazer uma coisa nova pra vocês e vocês querem Alzira e a Torre? Então vamo lá!".
Mas é isso que o povo quer: sugar de tudo que Lenine pode produzir e mostrar de novo e de novo, e não há quem canse!
Quanto ao show de Vanessa da Mata, só comprovei o que já havia dito aqui em outro post: Ela é uma artista que tem suas virtudes (como compositora, inclusive), mas no palco deixa muito a desejar, sobretudo quando comparada com outras artistas do mesmo gênero, como Roberta Sá ou mesmo Céu. Faz falsetes terríveis e grita muito (não como Ana Carolina). Cantou uma música de Rita Lee (que disse ter preparado especialmente para o carnaval) que foi de arrepiar - de horror mesmo. Mas cantou seus grandes sucessos(Boa Sorte, Aiaiaiai, Não me deixe só, Ilegais), agitou a galera e também emocionou, cantando a enjoadinha, mas belas, "Amado" e "Vermelho". Registro para a muito bem feita "Pirraça". Ainda fez graça cantando "Stirt it Up" de Bob.
Já na segunda feira, uma chuva torrencial acabou nos levando a voltar pra casa quando não contava mais do que 15 minutos do show de Martnalia (que afirmo ser realmente a versão mulher(?) de Martinho da Vila). Não havia nenhuma possibilidade de ficarmos ali sem escafandros ou o que valesse. Nesse momento, e em outros que ainda viriam, percebi como os taxistas de recife são realmente preparados: os bancos dos carros são - quase sempre - cobertos de couro! Certamente já esperando os pintos molhados que saem das ruas do marco zero. Era muita, muita chuva mesmo.
O não comparecimento nos shows de Alceu Valença e Elba Ramalho foram motivados pelas intempéries, digamos, físicas, causadas pelas ladeiras de Olinda. Todos os dias as ladeiras foram visitadas sob um sol causticante, acompanhado de muita troça, muito maracatu (registre-se a presença, inclusive, de um grupo de Maracatu de Campina Grande, que soube que faz ensaios às sextas feiras no CUCA) e claro, muito frevo.
Tudo parte de um carnaval que preserva as suas raízes (ainda que se ouça, fora - e ao redor - do eixo Recife-Olinda, música baiana, mas também rock e tantas outras vertentes...) e entendo que, no Brasil é realmente o que mais possibilita a participação do povo, sem excluir o grande público em espaços privilegiados, impossibilitando que ele chegue perto do artista.
No mais, aqui e acolá, a presença de Chapeuzinho Vermelho (sem balas de absinto, desta feita) provocava a aproximação de vários lobos-maus e até de gente do pré-sal (?), e, desavisada do hit do momento, a Mulher Maravilha teve de aguentar muito, mas muito mesmo (junto com a Super-Girl) gente avisando pra ela fugir, fugir e fugir. Pobre coitada, deixou o seu jato nas areias da Praia de Cabo Branco - Essa onda de preservação da natureza pela diminuição do consumo chegou até mesmo aos super-heróis.
Ainda deu tempo pra ficar noivo (junto com Olímpio - esse de verdade!!!) com cara de pagodeiro (óculos branco sempre ajuda) e fazer tipo, derretendo de calor no sobe e desce de Olinda. Todo o carnaval divertidíssimo, e sempre que alguém pensava em ficar meio mole, ou passional por dentro, vinha, lá do âmago a mensagem: "Eu fico triste - Alegre! Sem beber eu fico triste, bebendo eu fico alegre!" Fosse nas ruas de Olinda ou de Recife, fosse embalando atendentes do Macdonalds no Tacaruna, ou mesmo formando um Mini-bloco com umas velhinhas no final de Olinda... que perguntaram se a gente era bipolar (triste-alegre?)... Só no carnaval mesmo pra isso acontecer... Demais, demais...